quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para Lula, empresários decepcionaram na crise; leia íntegra da entrevista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista para o repórter especial da Folha, Kennedy Alencar. Leia abaixo íntegra da entrevista:

FOLHA - É correto classificar de marolinha uma crise que gerou desemprego, redução de investimentos e derrubou o crescimento da economia de 5% ao ano para 1% em 2009 no cenário mais otimista?
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA - Foi correto. Temos que separar a crise em dois momentos. Até setembro de 2008, discutíamos a crise do subprime quando ainda não havia o problema dos bancos. Até esse momento, o Brasil sentiria muito pouco a crise por várias razões. A economia estava sólida. Havíamos diversificado nossas exportações. Os bancos brasileiros tinham maior solidez e havia maior controle do Banco Central. Quando veio o Lehman Brothers [quebra do banco americano de investimentos em setembro de 2008], aconteceram duas coisas graves. O dinheiro desapareceu. Uma empresa como a Petrobras passou a pegar empréstimos na Caixa que seria destinado a pequenas empresas brasileiras.

FOLHA - Ali não houve um tsunami?
LULA - As coisas não aconteceram aqui como em outras partes do mundo porque nós tomamos medidas imediatas. Liberamos R$ 100 bilhões do depósito compulsório para irrigar o sistema financeiro. Fizemos com que o Banco do Brasil e a Caixa agilizassem mais a liberação de crédito. Fizemos o Banco do Brasil comprar carteiras de bancos menores que estavam prejudicados. Fizemos o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa em São Paulo e comprar 50% do Banco Votorantin. Era preciso que os bancos públicos entrassem em outras fatias do mercado, em que não tinham expertise, como financiar carro usado.

Nos debates com empresários, a minha inconformidade é que houve no mês de novembro e dezembro uma parada brusca desnecessária de alguns setores da economia.

FOLHA - Em outubro de 2007, o sr. disse que tinha aprendido que era importante governar também para a burguesia, que possuía uma visão diferente de quando era dirigente sindical, pois tinha um lado claro. Como presidente, precisava governar para todos, pobres e ricos.

Disse também que a burguesia brasileira era a "burguesia que sempre foi, a burguesia que está sempre querendo mais". Falou ainda: "Da minha parte, não existe preconceito. Tenho consciência de que estão ganhando dinheiro no meu governo como nunca".

FOLHA - Durante a crise econômica internacional, o que o sr. achou do papel do empresariado brasileiro?
LULA - Alguns setores empresariais resolveram colocar o pé no breque de forma muita rápida, a começar do setor automobilístico, que seguia a orientação das matrizes, que estavam em situação muito delicada. Tinha um estoque razoável. Estavam numa situação privilegiada de produção e venda de carros. De repente, a indústria automobilística parou. Quando ela para, para uma cadeia produtiva que representa 24% do PIB industrial brasileiro. E outros setores que já tinham empréstimos assegurados com o BNDES pararam porque ninguém sabia o que ia acontecer.

Aí, fizemos desonerações, liberação de financiamentos, o Meirelles colocou dinheiro das reservas para facilitar nossas exportações. Depois, descobrimos outra coisa grave, os derivativos, feitos por empresas que não pareciam que faziam derivativos. Foi outro problema. Tivemos de conversar com empresa por empresa. Discutir como financiar, como evitar que algumas quebrassem, e colocamos o BNDES em ação.

FOLHA - No auge da crise, os bancos privados secaram o crédito. A Vale e a Embraer demitiram de imediato. Foi um comportamento à altura do país naquele momento?
LULA - Não foi. Foi precipitação do setor empresarial, que deveria ter tido tido a tranquilidade que o governo teve. Deveriam ter ouvido o pronunciamento de 22 de dezembro em que fui à TV contraditar a tese de que as pessoas não iam comprar com medo de perder o emprego. Fui dizer que iam perder emprego exatamente se não comprassem.

FOLHA - O sr. comprou algo?
LULA - Lógico. Comprei geladeira nova.

FOLHA - E a sua opinião hoje sobre a burguesia, pós-crise?
LULA - Não utilizo mais a palavra burguesia.

FOLHA - Sobre o grande capital nacional?
LULA - Tem setores diferenciados. Não pode colocar todo mundo no mesmo barco. Tem o setor automobilístico que é dinâmico, mas depende de orientação da matriz. Como a matriz, estava numa situação muito delicada, a orientação recebida aqui era para colocar o pé no breque. Tinha o setor siderúrgico, com 60% da produção para exportação, que, de repente, minguou. A Vale exportava quase tudo o que produz de minério. Na hora em que caiu a demanda da China, houve um breque. O que me deixou decepcionado é que as pessoas deveriam ter tido a paciência para ver o tamanho do buraco. Quando dizíamos que o Brasil seria o último a entrar na crise e o primeiro a sair, nós estávamos convencidos do potencial do Brasil e do mercado interno. Há anos venho dizendo: o problema do Brasil não é o custo final do carro, o problema é saber se a mensalidade que o trabalhador vai pagar cabe no seu holerite.

Hoje é um fato consagrado no mundo inteiro: o Brasil hoje é o país mais bem preparado e o que melhor enfrentou a crise.

FOLHA - O sr. vai prorrogar a isenção de IPI para a linha branca? Total ou parcialmente?
LULA - Essas coisas a gente não diz sim ou não com antecedência. Se eu disser agora que vai ser prorrogado, as pessoas que iam comprar agora deixam de comprar.

FOLHA - O sr. tem simpatia pela prorrogação?
LULA - Tanto que tenho simpatia que fiz a desoneração.

FOLHA - Com o dólar no patamar de R$ 1,70 e juros ainda altos na comparação com outros países, o sr. não teme viver uma crise cambial em 2010 ou deixar uma bomba-relógio para o sucessor?
LULA - Nunca trabalhei com juros altos tendo como parâmetro outros países.

FOLHA - Mas os juros no Brasil são altos, e o sr. reclama.
LULA - Sei. Mas trabalho na comparação com o que era. Em vez de ficar achando que a calça do outro é apertada, eu vejo a minha de manhã. O Brasil tem a menor taxa de juros de muitas décadas.

FOLHA - A taxa básica não poderia estar menor?
LULA - Poderia. Mas, descontada a inflação, temos 4%, 4,5% de juro real. Há muitas décadas o Brasil não tinha esse prazer. O problema hoje é o spread bancário, que ainda está alto, e o governo tem trabalhado para reduzir.

FOLHA - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tem uma crítica...
LULA - Deixa eu falar do câmbio. Depois respondo à crítica do Serra, que é menos importante para mim, para você e para o povo brasileiro. O câmbio sempre foi uma preocupação nossa. Se um dia você for presidente da República e sentar naquela cadeira, vai entrar na sua sala uma turma reclamando que o dólar está baixo, porque ele é exportador e está perdendo. Quando sai, entra a turma dos compradores, importadores, que acham que o dólar está maravilhoso, que é preciso manter assim. Aí entra o ministro da Fazenda, o presidente do Banco Central e dizem que é maravilhoso o dólar baixo porque controla a inflação.

Agora, antes que aconteça, uma superentrada de dólares no Brasil, reduzindo muito o valor do dólar em relação ao real, criando problema na balança comercial, e com algumas empresas exportadores tendo problema, nós demos um sinal com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiros, que passou a ser cobrado no ingresso de capitais]. Demos um sinal para ver se a gente equilibra.

FOLHA - Especialistas dizem que o IOF será inócuo?
LULA - Se for inócuo, mudamos. Há uma disputa. O setor produtivo totalmente favorável, e o financeiro totalmente contrário. Isso é importante, porque significa que o governo está no caminho do meio, e aí é mais fácil a gente acertar.

FOLHA - A crítica básica do Serra é a seguinte: o Banco Central jogou fora na crise um bilhete premiado, que seria a oportunidade de baixar mais os juros sem custo. Agora, a crise acabou, a taxa está alta, pode ter que aumentar e jogou fora o bilhete premiado?
LULA - Vivi os dois lados. Quando se é oposição, você acha, pensa, acredita. Quando é governo, faz ou não faz. Toma decisão. O Serra participou de um governo oito anos. Tiveram condições de tomar decisões e não tomaram. Obviamente, qualquer um que for presidente, tem o direito de tomar a posição que bem entender. É como jogador bater pênalti. Brincando todo mundo marca gol. Na hora do pega para capar, até pessoas como o Zico e o Sócrates perderam pênalti.

FOLHA - Uma crítica de especialistas e da oposição é o aumento dos gastos públicos no segundo mandato. Além da elevação temporária de gastos na crise, há despesas permanentes que pressionarão o caixa no futuro e tornarão mais difícil baixar os juros. O sr. estaria deixando uma herança maldita.
LULA - As contas do governo nunca estiveram tão boas na história deste país. A política anticíclica na crise fez com que o governo deixasse de arrecadar uma enormidade de dinheiro. Mas é o preço que a gente tem de pagar. Compare o que colocamos de dinheiro na crise, com desoneração, com o que os países ricos tiveram de colocar. Foram trilhões de dólares colocados para ajudar o sistema financeiro, coisa que não precisamos fazer.

FOLHA - Saiu barato?
LULA - Eu acho. Em setembro, recuperamos os empregos que perdemos na crise e muito mais. Vamos chegar a um milhão de empregos no final do ano. Veja o mundo desenvolvido.

FOLHA - Qual é a sua previsão de crescimento do PIB para este ano?
LULA - Positivo, entre 1% e 1% e pouco. Se não houvesse a brecada brusca entre dezembro e janeiro, poderíamos ter crescido 2,5%, 3% com certa tranquilidade. O importante é o sinal para 2010.

FOLHA - Aquela brecada do empresariado sacrificou crescimento econômico?
LULA - O empresário brasileiro foi vítima de uma circunstância. O pânico criado no mundo fez com que todo mundo acordasse de manhã achando que ia acabar o mundo. O pânico precipitou decisões de recuo de setores empresariais. Eu chamei empresários, disse que tínhamos de aproveitar a crise, que tínhamos dinheiro no BNDES, que as empresas com dinheiro em caixa tinham de fazer investimento agora porque, quando a crise acabasse, estaríamos preparados para ocupar outro patamar no mundo. O momento não é de medo, é de investir. Eu jamais demoraria o tanto que foi demorado nos Estados Unidos para salvar a GM.

FOLHA - Aécio Neves ataca o inchaço da máquina e diz que o sr. faz um governo para a companheirada. Como o sr. responde?
LULA - Tem duas concepções de ver o Brasil. Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros. Quebramos o preconceito de primeiro tem que enxugar a máquina, fazer o país crescer e, então, dividir. Vivi isso durante quatro décadas. Quando resolvemos fazer política social, dissemos que era possível crescer concomitantemente e criamos uma nova casta de consumidores que está ajudando a indústria e o comércio.

FOLHA - O sr. recuou no envio de um projeto para cobrar IR de poupança acima de R$ 50 mil e mandou normalizar a devolução da restituição do IR. A lógica eleitoral, com temor de desgaste, autoriza a conclusão de que o sr. não pretende tomar medidas impopulares até o final do governo?
LULA - (Risos). Não faça injustiça, querido. Não adiamos o envio do projeto de lei. Decidimos o que íamos fazer em março, por unanimidade. A oposição que imaginava pegar a poupança como cavalo de batalha, ficou sem discurso. Em vez de a Fazenda mandar em março, como era algo que só valeria para 2010, esperou para mandar agora.

FOLHA - Vai enviar ao Congresso?
LULA - Vai mandar. Obviamente, poderemos discutir outras bases. Vai mandar, vai mandar.

FOLHA - E sua ordem para normalizar o pagamento da restituição do IR?
LULA - Não havia nada de anormal. No Brasil, já tivemos momentos em que a devolução atrasou. No nosso governo, tivemos momentos em que adiantou.

FOLHA - O ministro da Fazenda disse que estava atrasado, e o sr. deu a ordem para acelerar.
LULA - Lógico, porque tem que pagar. Nós precisamos de consumo. Precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. Falei com o Guido [Mantega]: Guido, nós precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. O povo tem de ter o dinheiro em dezembro.

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"No Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas"

FOLHA - Por que o sr. escolheu Dilma como candidata, uma cristã nova no PT e pessoa que nunca disputou eleição, sem fazer uma discussão no partido e levar em conta os nomes de governadores, como Jaques Wagner (BA) e Marcelo Déda (SE), e de ministros, como Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Tarso Genro (Justiça)?
LULA - Não estava em discussão quem era PT mais puro sangue, menos puro sangue. Era uma questão de viabilidade política. Dilma é a mais competente gerente que o Estado brasileiro já teve. A capacidade de trabalho da Dilma, a competência, o passado político e o presente, me faz garantir que a Dilma é uma excepcional candidata a presidente da República.

FOLHA - O sr. nunca havia sido gestor, era político, virou presidente e faz um governo bem avaliado. Seu argumento não é muito tucano, essa coisa de gerente.
LULA - Não é tucano, não. Além de extraordinária gestora, a Dilma é um extraordinário quadro político. Tem firmeza ideológica, tem compromisso, tem lealdade, sabe de que lado está.

FOLHA - O sr. a acha preparada para presidir o Brasil?
LULA - Muito preparada.

FOLHA - Já há faixas na rua dizendo que Dilma eleita equivale ao terceiro mandato de Lula.
LULA - É exatamente o contrário. Uma mulher que tem a personalidade que a Dilma tem. Conheço bem a personalidade dela. Isso vai exigir que eu tenha o bom senso de quando elegi o Jair Meneguelli presidente do sindicato de São Bernardo, o José Dirceu presidente do PT. Rei morto, rei posto. A Dilma no governo tem de criar a cara dela, o estilo dela, o jeito dela de governar.

FOLHA - Falando do estilo, ela é retrata por pessoas do governo como muito dura no trato pessoal, que falta habilidade política, que massacra algumas pessoas. Isso não é ruim para um presidente?
LULA - O Brasil já teve muitos governantes maleáveis, e não deram certo? Você tem de ser bom, afável, duro, em função de cada circunstância. Uma mulher por si já tem a necessidade de ser mais retraída, pelo preconceito que existe contra a mulher. A Dilma vai surpreender esse país. Quem pensa que a Dilma é uma mulher grosseira, é uma mulher dura, está errado. Na sua casa, se você for com uma gracinha para o lado de sua mulher, ela vai lhe dar um tranco. Se a conversa for séria, não vai dar. E a Dilma tem toda a clareza disso.

FOLHA - Dilma precisará refazer sua imagem, tomar um banho de loja, semelhante ao que o sr. fez em 2002?
LULA - (Risos) Por esse aspecto, não precisa. Não mudei minha cara. Comprei apenas um terno novo para 2002. Não é possível mudar a cara. A pessoa pode aprimorar. Em 2002, fizemos uma pesquisa em que 85% diziam que a reforma agrária tinha de ser pacífica. Levei mais de 15 dias para que minha boca pudesse proferir reforma agrária tranquila e pacífica. Essas mudanças têm de ter. Algumas que a gente fala, pensando que está agradando, não batem com o que povo pensa.

FOLHA - O sr. defende uma coalizão e uma disputa plebiscitária. Se a coalizão é tão importante, por que faz tanta questão que o candidato seja do PT e não de um partido aliado?
LULA - Porque seria inexplicável para grande parte da sociedade brasileira o maior partido de de esquerda do país, que tem o presidente da República atual, não ter um sucessor. Apenas por isso.

FOLHA - Fechou ontem a aliança ontem com o PMDB?
LULA - Patrocinei uma reunião de líderes do PT com o PMDB, que fizeram uma nota. Haverá um acordo nacional, e a chapa será PT-PMDB.

FOLHA - Michel Temer é o nome para vice?
LULA - Não posso dar palpite. Quem discute vice é o candidato a presidente.

FOLHA - O sr. ainda tem o desejo de que Ciro seja vice de Dilma e que o PMDB apoie?
LULA - Um presidente não tem desejo. Faz o que é possível.

FOLHA - É possível?
LULA - Na política, tudo pode acontecer. O Ciro tem todas as condições de ser candidato a presidente. Sou um homem feliz. Feliz desse país, que tem o Ciro, a Dilma, o Serra, o Aécio, a Marina, a Heloísa Helena. Nesse espectro, não tem ninguém de extrema-direita ou conservador ao extremo. Todos tem história. Não acho que é mérito meu, não. Fernando Henrique Cardoso tem importância nisso, pelo fato de ter feito comigo uma transição excepcional.

FOLHA - Se Ciro se mantiver emparelhado ou à frente de Dilma em março, quando o sr. e ele combinaram de tomar uma decisão final, que argumento o sr. pode usar para convencê-lo a desistir da Presidência e concorrer em São Paulo?
LULA - Não vou tentar convencê-lo.

FOLHA - O sr. patrocina a articulação para ele ser candidato a governador de São Paulo.
LULA - Não é verdade. Não patrocino. O Ciro pertence a um partido pelo qual tenho profundo respeito. O PSB tem os mesmos direitos do PT. Sou o único cidadão que não tem autoridade moral para pedir para alguém não ser candidato. Fui candidato a vida inteira. Só cheguei à Presidência porque teimei. Muita gente achava que eu tinha de desistir. Jamais farei isso [pedir para Ciro desistir].

FOLHA - Como o sr. explica ter um governo popular e a oposição liderar nas pesquisas sobre sucessão?
LULA - Ainda não temos candidatos

FOLHA - Os motivos? Recall?
LULA - Lógico que é recall. O fato de ter um candidato da oposição que é governador de São Paulo, já foi candidato a presidente, que já foi senador, que já foi ministro, tem uma cara muito conhecida no Brasil inteiro.

Obviamente, a transferência de voto não é como passe de mágica. Vamos trabalhar para que a gente possa transferir todo o prestígio angariado pelo governo e pelo presidente para a nossa candidatura.

FOLHA - O sr. diz que ainda não há candidatos. Mas todo dia a Dilma aparece com o sr. no noticiário, viajando. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, classificou de vale-tudo as viagens que viram comícios.
LULA - Você passa o tempo inteiro plantando a sua rocinha. É justo que, quando ela ficar no ponto de colher, você vá colher. Foi grande o sacrifício que fizemos para o Brasil voltar a investir em infraestrutura. A gente não tinha dinheiro. Se olhássemos o saldo de caixa do governo para fazer o PAC, a gente não teria feito. Foi uma decisão de faríamos e arrumaríamos dinheiro onde fosse necessário.

A Dilma trabalha das oito, nove da manhã às três da manhã. Quando era ministra das Minas e Energia, ela ficava, às vezes, três e meia da manhã, ficava comendo lanche com os assessores para fazer as coisas andar. Ninguém pode ser contra a Dilma ir às obras comigo. Até porque, se ela for candidata, a lei determina quem tem prazo em que ela não poderá mais ir. Até chegar lá, ela é governo. É um debate pequeno.

FOLHA - Mendes disse que o governo testa o limite da Justiça Eleitoral.
LULA - É um debate pequeno. Cada brasileiro, seja ele presidente da suprema corte ou o mais humilde, tem o direito de falar o que bem entender, mas tem uma lógica. Nós vamos continuar inaugurando obra. Tudo que a oposição quer é mostrar na TV tudo o que eu não fizer. O que eu fizer eu tenho obrigação de inaugurar, porque sei qual foi o sacrifício para chegar aonde chegamos.

FOLHA - O sr. teme uma chapa Serra-Aécio?
LULA - Não [com voz firme].

FOLHA - O sr. pediu a Aécio para não ser vice de Serra?
LULA - [Riso] Não, não.

FOLHA - O sr. não subestimou Marina, que deixou o PT para, segundo ela, construir uma nova utopia no PV?
LULA - Se ela acredita nisso, não sou que vou desmentir. Nunca subestimei a Marina, porque a adoro como pessoa humana. Tenho carinho por ela. Fomos militantes juntos por 30 anos. Ela me pediu demissão em janeiro do ano passado, eu não dei. Na medida em que quis sair do governo e do partido, é um direito dela. Só tenho que desejar sorte, que Deus ajude. É uma pessoa boa.

FOLHA - Por que o sr. não abandonou Sarney na crise do Senado?
LULA - Por uma razão muito simples. O PT teve candidato a presidente do Senado, derrotado [Tião Viana, do Acre]. Não entendi porque os mesmos que elegeram Sarney, um mês depois, queriam derrubá-lo. Coincidentemente, o vice não era uma pessoa [Marconi Perillo, do PSDB de Goiás] que a gente possa dizer que dá mais garantia ao Estado brasileiro do que o Sarney. A manutenção do Sarney era questão de segurança institucional. O Senado está calmo. Está funcionando. Qualquer cidadão pode perder a cabeça, um presidente da República não pode perder a cabeça.

FOLHA - Se Sarney caísse, acabaria sua sustentação política no Senado?
LULA - A queda do Sarney era o único espaço de poder que a oposição tinha. Aí, ao invés de governabilidade, iam querer fazer um inferno neste país. Foi correta a decisão de manter o Sarney no Senado.

FOLHA - Falando do seu papel como presidente da República, o sr. chegou a dizer que Sarney não poderia ser tratado como um cidadão comum. Não é incorreto numa democracia, onde ninguém está acima da lei? Um presidente falar isso não transmite mensagem ruim?
LULA - É verdade que ninguém está acima da lei, mas é importante que a gente não permita a execração das pessoas por conveniências eminentemente políticas. Sarney foi presidente. Os ex-presidentes precisam ser respeitados, porque foram instituições brasileiras. Não pode banalizar a figura de um ex-presidente. O que vem depois da negação da política é pior do que a gente tinha. O mundo está cheio de exemplos.

A negação do socialismo, feita pela Gorbatchov, deu quem? O que tomava vodca lá, o [Bóris] Iéltsin. A relação com a política tem de ser mais séria. Não adianta falar mal do Congresso Nacional, porque ele é a cara do que foi votado pelo povo. O importante é que a democracia garante que a cada 4 anos haja troca.

FOLHA - O sr. apoiou Sarney, reatou relações com Collor, é amigo do Renan Calheiros, do Jader Barbalho e recebeu o Delúbio Soares recentemente na Granja do Torto. Todos eles são acusados de práticas atrasadas na política e até de corrupção. Ao se aproximar dessas figuras, o presidente não transmite ideia de tolerância com desvios éticos?
LULA - O dia que você for acusado, justa ou injustamente, enquanto não for julgado, terá de ser tratado como cidadão normal. Não tenho relações de amizade, mas relações institucionais. As pessoas ganharam eleições e exercem seus mandatos.

FOLHA - O cidadão que admira o Lula e o vê abraçado com essas figuras...
LULA - O cidadão que admira o Lula tem de saber que essas pessoas foram eleitas democraticamente. E o eleitor dessas pessoas é tão bom quanto ele.

FOLHA - O sr. trabalhou tanto pela reabilitação política de Palocci. O episódio do caseiro não é insuperável do ponto de vista eleitoral para um candidato majoritário?
LULA - Estranho a malandragem da pergunta: "O sr. trabalhou pelo Palocci". Deixa eu lhe falar uma coisa, desejo que todos os que foram acusados, e acho que tem muita gente acusada injustamente, que todos sejam julgados. Palocci teve um veredicto. Não tem mais nenhuma pendência com a Justiça. Portanto, o Palocci pode ser o que ele quiser ser.

FOLHA - E [pendência] perante o eleitorado?
LULA - Aí terá de ser construído.

FOLHA - Ele pode ser candidato a governador de São Paulo?
LULA - Ele tem inteligência suficiente para saber se o momento é de ter uma candidatura ou não.

FOLHA - Qual é sua opinião?
LULA - Não tenho opinião. Se fizer a pergunta em março, terei opinião. Palocci pode reconstruir a vida dele. Durante os primeiros anos do meu governo, ele era considerado a pessoa mais respeitada no mundo empresarial, no mundo financeiro. Ele está quase perto de ser um gênio político e vai saber tomar a decisão.

FOLHA - Seu aliado Ciro Gomes diz que há "frouxidão moral" na hegemonia da aliança PT-PMDB, da qual o sr é o principal avalista. Sobre o encontro com o PMDB, disse: "Espero que o PMDB entregue o que prometeu. E espero que os argumentos dessa aliança sejam confessáveis publicamente". Como o sr. responde a essas críticas?
LULA - A aliança com o PMDB e os demais partidos permitiram uma governança muito tranquila. Tive a governança mais tranquila que FHC e Sarney. Se for confirmada a aliança com o PMDB, será feito um documento público explícito para saber qual são os compromissos assumidos. Pra mim, as coisas têm de ser explícitas.

FOLHA - E a frouxidão moral?
LULA - É um conceito do Ciro.

FOLHA - Não quer responder.
LULA - Estou respondendo. É uma opinião do Ciro.

FOLHA - Não o incomoda?
LULA - Não. O Ciro esteve no meu governo. A única que não tem aqui é frouxidão moral.

FOLHA - Ciro disse que o sr. e FHC foram tolerantes com o patrimonialismo para fazer aliança no Congresso. Ou seja, aceitaram a prática política de usar os bens públicos como privados. "No governo Lula, vi um pouco de novo a mesma coisa", ele disse em entrevista em fevereiro de 2008. Como responde a essa crítica?
LULA - Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, ele não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer, tem uma diferença do tamanho do oceano Atlântico. E o eleitor escolheu seus representantes. Quem ganhar a Presidência amanhã, terá de fazer quase a mesma composição, porque este é o espectro político brasileiro. Não é o espectro do Ciro, do Lula, do FHC, do Serra, da Dilma. Coloque tudo isso na frigideira e perceberá que são os ovos que a galinha botou. São com eles que terá de fazer o omelete.

FOLHA - Nunca se sentiu incomodado por ter feito alguma concessão?
LULA - Nunca me senti incomodado. Nunca fiz concessão política. Faço acordo. Uma forma de evitar a montagem do governo é ficar dizendo que vai encher de petista. O que a oposição quer dizer com isso. Era para deixar quem estava. O PSDB e o PFL (hoje DEM) queriam deixar nos cargos quem já estava lá. Quem vier para cá não montará governo fora da realidade política. Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão.

FOLHA - É isso que explica o sr. ter reatado com Collor, apesar do jogo baixo na campanha de 1989?
LULA - Minha relação com o Collor é a de um presidente da República com um senador de um partido que faz parte da base da base. Os senadores do PTB têm votado sistematicamente com o governo.

FOLHA - Do ponto de vista pessoal, não o incomoda? Não lhe dá aperto no peito?
LULA - Não tenho razão para carregar mágoa ou ressentimento. Quando o cidadão tem mágoa, só ele sofre. A pessoa que é a razão de ele ter mágoa vive muito bem, e só ele sofre. Quando se chega à Presidência da República, a responsabilidade nas suas costas é de tal envergadura que você não tem o direito de ser pequeno. Tem de ter as atitudes de chefe de Estado. Fico sempre olhando quando a Alemanha e a França resolveram criar a União Européia. A grandeza daqueles dirigentes políticos, ainda com o gosto de sangue da Segunda Guerra Mundial.

FOLHA - O sr. cobrou um esclarecimento da ex-secretária da Receita, Lina Vieira. Ela achou a agenda e a data, 9 de outubro, em que teria se encontrado com Dilma e ouvido o pedido para acelerar as investigações da Receita sobre Sarney. A ministra e o governo não devem esclarecimentos que o sr. mesmo cobrou?
LULA - É fantástico. O engraçado é que quando se levanta uma tese, essa tese fica sendo martelada todo santo dia para ver se ela vinga. Ora, o governo mesmo disse que a Lina tinha vindo aqui em outubro. Isso foi nós que dissemos. Acho estranho tirar tantos dias de férias para depois encontrar sua agenda.

FOLHA - Não é preciso mais explicações da Dilma?
LULA - Não tenho dúvida nenhuma. Também não tenho dúvida de que a Lina também deve ser uma grande funcionária pública. Muitas vezes as pessoas são vítimas de uma palavra a mais ou a menos. Quando as pessoas viram vítimas de utilização política, quando fulano procura alguém, e ninguém fala diretamente, sempre alguém fala por eles, aprendi a não levar muito a sério.

FOLHA - O sr. acha que Lina está sendo usada?
LULA - A dona Lina é dona da sua consciência. A dona Dilma é dona da sua consciência.
p(star). *

"Papel da imprensa não é fiscalizar, é informar"

LULA - Não faz mal porque aprendi, ao longo da minha vida, cair e levantar, cair e levantar. A pesquisa de opinião pública é como medir a pressão.

FOLHA - Quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, o sr. disse que simbolizava a entrada do Brasil no primeiro mundo político e econômico. O episódio de derruba de um helicóptero no último sábado não mostra que aquele Rio vendido lá é fantasia e que seu discurso é irrealista?
LULA - Pelo contrário. Disse que o Brasil tinha conquistado sua cidadania internacional. E reafirmo. Foi um momento glorioso ter a maior votação que um país já teve na história das Olimpíadas. Não foram escondidos os problemas sociais do Rio.

FOLHA - O secretário da Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, diz que "o Rio precisa que o governo federal assuma a responsabilidade legal pelo combate à droga". Empurrou a responsabilidade para o governo federal.
LULA - O governador [Sérgio Cabral] contraditou o secretário. O secretário é uma figura da Polícia Federal muito respeitada, muito amigo do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Em momentos de medo, de insegurança, as pessoas falam qualquer coisa. Converse com o governador para ver a parceria na área de segurança que estamos construindo.

FOLHA - O sr. assistiu ao filme "Lula, o filho do Brasil"?
LULA - Não. Estou sendo convidado. Quinhentas ofertas. Quero sentar com a minha família e ver o filme.

FOLHA - Com financiamento de grandes empresários e ajuda das centrais sindicais na distribuição, não é um instrumento de propaganda personalista?
LULA - Se isso prevalecer, não sei o que fazer. Vou entrar numa redoma de vidro, mandar cobrir e não apareço mais em lugar nenhum. Tem um livro sobre a minha vida que é pública. O cidadão resolve fazer um filme. A única condição que impus foi não ter dinheiro público, e eu não quero que fale do governo. Do governo, só quando acabar.

FOLHA - O sr. não teme a repercussão negativa entre os judeus do encontro com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?
LULA - Muito pelo contrário. Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do estado brasileiro com o estado iraniano. Temos uma relação comercial, queremos ter uma relação política, e eu disse ao presidente Barack Obama (EUA), ao presidente Nicolas Sarkozy (França) e à primeira-ministra Angela Merkel (Alemanha) que a gente a não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede. É preciso criar espaços para conversar.

FOLHA - Ações recentes da política externa na América Latina foram de contraponto a Washington. O Brasil tem de ser um contrapeso à força dos EUA na região?
LULA - Não quero ser um contraponto a Washington. Quando propus a criação do Conselho de Defesa e de combate ao narcotráfico, tinha duas coisas na cabeça. Nós precisamos nos transformar numa zona de paz. E, enquanto América do Sul, a gente assuma a responsabilidade de combater o narcotráfico. Porque aí vai permitir que os países consumidores cuidem dos seus consumidores.

FOLHA - Zelaya completou completou um mês na embaixada brasileira fazendo política interna. Não foi longe demais?
LULA - Só tem um exagero em Honduras. É o golpista.

FOLHA - O sr. diz que a imprensa internacional elogia o Brasil e a nacional puxa o Brasil para baixo. Nos EUA, o Obama apanha da imprensa, e é elogiado na imprensa internacional. Isso não acontece porque a imprensa nacional conhece o país melhor?
LULA - [Risos] Quisera Deus que fosse verdade. Estou convencido de que a imprensa nacional conhece melhor o país, até porque tem obrigação de conhecer. Mas, às vezes, vejo um comportamento de um setor da imprensa muito ideologizado. Sou amante da democracia e da liberdade de imprensa. A maior alegria que tenho é que os leitores, ouvintes e telespectadores são os únicos censuradores que admito nos meios de comunicação. Portanto, cada um paga pelo que faz.

FOLHA - Um dos papéis da imprensa é fiscalizar o poder. O sr. não está incomodado com a imprensa cumprindo o seu papel?
LULA - Não incomoda.

FOLHA - O sr. disse que tem azia quando lê jornais.
LULA - Como presidente, nunca fico incomodado. Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. O papel é informar.

FOLHA - A imprensa não tem de ser fiscal do poder?
LULA - Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios ao governo, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.

FOLHA - O sr. acha legítimo o governo interferir na gestão de uma empresa privada como o sr. faz em relação à Vale?
LULA - Não interferi na Vale.

FOLHA - Houve interferência pública.
LULA - É preciso parar com essa mania de entender que só o presidente da República tem responsabilidade com o Brasil. Os 190 milhões têm. E, mais ainda, os empresários têm. E aqueles que receberam benefício do governo têm mais ainda. O que eu disse ao companheiro Roger foi pedir para a Vale colocar todo o seu poder de investimento em investimentos internos. Não apenas na exploração de minério, mas também na transformação desses minérios em aço.

Os trabalhadores da Vale sabem do carinho que tenho por ela. Tenho feito esforço em vários países do mundo, ajudando a cavar espaço para que a Vale seja empresa multinacional. Agora, não pode acontecer, quando deu um sinal de crise, mandar tanta gente embora como mandou. O Roger já sabe que houve equívoco nisso.

FOLHA - Na fusão da Oi com a Brasil Telecom, o sr. mudou a regra para favorecer um negócio em andamento de um empresário que é seu amigo e contribui para suas campanhas, Sérgio Andrade. Foi um benefício do Estado a um grupo privado. Isso não ultrapassa o limite ético?
LULA - Vocês são engraçadíssimos. Temos uma agência reguladora.

FOLHA - Mas o sr. assinou um decreto mudando a regra.
LULA - A legislação brasileira permite que a agência faça a regulação que melhor atenda ao mercado brasileiro. Estou convencido de que foi correta a decisão do governo.

*

Lula elogia Dunga e diz quem tem vaga garantida na seleção

O presidente Lula diz ser "excepcional" o saldo de Dunga na seleção brasileira. Acha que o Corinthians não tem mais chance de ganhar o Campeonato Brasileiro. O título, crê, está em disputa entre Palmeiras, São Paulo, Atlético Mineiro e Flamengo, que vem "despontando".

Fala que Robinho "faz motocicleta" em campo. "Nem bicicleta é." Conta que aconselhou Ronaldo a se preparar para ser convocado. Recusou-se a escalar seus onze titulares, mas opinou sobre quem teria vaga garantida para a Copa de 2010 na África do Sul.

"Dunga ganhou o que a gente não imaginava que ele ia ganhar". Diz que o técnico foi "demonizado" como jogador em 1990, com "o fracasso da seleção" na Alemanha. Mas saiu como "herói" na Copa de 1994, nos Estados Unidos. "É casca de ferida."

Falou que, se a seleção jogar a Copa de 2010 com "o espírito" da Copa das Confederações, "já está bom". "Ganhar a Copa ou não, é consequência. Para o torcedor, o que é a gente quer, além de ganhar, é muita raça", disse.

Para ele, Luís Fabiano "está excepcional" e será titular. Os outros titulares seriam Júlio Cesar, Maicon, Lúcio, Júan, Felipe Melo, Gilberto Silva e Kaká.

Apesar da irregularidade, Lula levaria Robinho para a África do Sul: "Às vezes, o cara é convocado porque o técnico tem afinidade com as pessoas que cumprem as tarefas do técnico. E o Robinho é aquele moleque de explosão. Tem dia que a gente fica nervoso porque ele não faz nada. Tem dia que a gente vê ele fazer lá uma motocicleta, nem bicicleta é, e marcar um gol espetacular".

O presidente colocaria no grupo André Santos, Daniel Alves e Nilmar. "Se fosse técnico, levaria o Nilmar. Tenho de convocar 22 e só vou colocar 11 em campo. O Nilmar é um moleque de uma explosão extraordinária. Muito esperto, muito ligeiro", opina.

Conta que disse a Ronaldo para se preparar fisicamente para "ser convocado" e ser reserva de Luís Fabiano. "O Ronaldão é sempre o Ronaldão". Sobre Gilberto Silva, diz; "Sinto que é uma das figuras de confiança do Dunga".

*

PINGA FOGO

Vale, a maior empresa privada do país
A cara do Brasil lá fora.

Roger Agnelli, presidente da Vale
Grande executivo.

Eike Batista, o homem mais rico do Brasil
Grande executivo.

Dona Lindu, mãe
Junto com a Marisa são as duas melhores mulheres do mundo.

Sr. Aristides, pai
Tenho boa lembrança do meu pai. Quando era pequeno, tinha muita bronca, porque ele era muito severo. Depois que fiquei politizado, tenho compreensão do motivo de meu pai ser rude.

Frei Chico, irmão
Figura excepcional

Lurdes, primeira mulher, que já morreu
Extraordinária

Marisa Letícia, primeira-dama
Uma das responsáveis pelo que eu sou

José Alencar, vice-presidente
O melhor vice do mundo

José Sarney, presidente do Senado
Grande republicano

Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã
Não conheço bem

Barack Obama, presidente dos EUA
Grande esperança. Um bem para os EUA e para o mundo

Michele Obama, primeira-dama dos EUA
Muito simpática

Nicolas Sarkozy, presidente da França
Surpreendentemente extraordinário.

Carla Bruni, primeira-dama da França
Sei que é muito bonita

Cristina Kirchnerr, presidente da Argentina
Grande presidente. Vai terminar fazendo grande governo

Michelle Bachelet, presidente do Chile
Muito competente

Angela Merkel, primeira-ministra
Figura séria. A Alemanha está em boas mãos

Lula
Sempre procuro me comportar com a maior humildade possível. Gosto de falar com o povo. Odeio intermediário com o povo. Esse negócio de gente falar por mim, eu não gosto. Por isso, falo muito.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Como vive Eike Batista, o mais rico do país (Postado por Danuza Peixoto Zambrana)


Folha Online/CBJr.
Divulgação


O mineiro Eike Fuhrken Batista, 52, há tempos não se lembra dos seus sonhos. No último que a memória guardou, ele voava. "Sozinho?", pergunta o interlocutor. "Sozinho! O Super-Homem não voa?" Ele não esqueceu os sonhos que o embalavam aos 16 anos.

Na escola na Alemanha, onde morava com a família, descobria nos livros a saga de Francisco Pizarro, o espanhol que saqueou o ouro dos incas na América do Sul do século 16. "Aquilo me fascinava, a história de salas cheias de barras de ouro", conta. "Eu me transferia para o ambiente e parecia que segurava aquele negócio."

Quando uma cartomante carioca sugeriu-lhe no crepúsculo do século 20 que acorresse a Cusco, a capital do Império Inca, Eike (pronuncia-se "Aique") voou até o Peru. Em obediência às instruções, deitou-se de barriga para cima em um campo de futebol e mirou o céu por cinco minutos. "Ela disse que iria reordenar o cosmos, a linha da vida seria reajustada." E funcionou? "Acho que sim, está tudo bem."

Ainda em Cusco, um guia apresentou-o a uma índia bruxa. Ela pediu que Eike comprasse um saquinho de folhas de coca. A feiticeira soprou-as e pontificou sobre o pai do visitante, saúde e outros assuntos. "Foi interessante", recorda Eike, no restaurante chinês Mr. Lam, estabelecimento no Jardim Botânico, zona sul do Rio, que ele fundou e no qual investiu R$ 8 milhões. Abaixo da edificação, mandou cravar uma barra de cobre.

A providência destina-se a espantar más energias, aplicando o feng shui, conhecimento chinês segundo o qual a disposição de objetos influi no cotidiano das pessoas. No seu escritório, em frente à praia do Flamengo, ele se senta voltado para a porta. "Você apara as energias [ruins] de quem vem de fora." Desses desencontros, não guarda rancor de ninguém, assegura. A astrologia contribui para entendê-lo, ensina Eike, nascido em 3 de novembro: "Escorpião é muito amigo, leal com quem é leal com ele".

"O lado vingativo, típico do escorpião, consegui dominar com a idade. Depois dos 30, quem rege mais você é o signo ascendente." O dele é capricórnio. Porém permaneceram, afirma, dons escorpianos de "tenacidade e perseverança". Ele lapida a sorte com o número 63, rebento do acaso. Em uma competição de lanchas, buscou o 3 e o 33, já ocupados. Sobrou o 63, com o qual definiria até os centavos nos lances de sua empresa OGX em leilões de blocos para exploração de petróleo. Consagrou-se campeão mundial em categoria da motonáutica. Alcançou no mar a velocidade de 270 km/h.

Nesse ritmo, tornou-se o brasileiro mais rico e o número 61 do planeta, conforme ranking da revista "Forbes" divulgado em março. Seu patrimônio atingia US$ 7,5 bilhões. É tanto dinheiro que, se ele se sentasse na gangorra diante do capo das comunicações italiano, Silvio Berlusconi, cada um pesando quanto vale, a balança penderia para Eike -o primeiro-ministro e sua família detinham US$ 6,5 bilhões.

Os cifrões de Eike dariam para bancar sozinho o Bolsa Família neste ano. Dos 60 mais abastados que ele, só 11 são mais jovens. Bill Gates, 53, lidera a corrida com US$ 40 bi. A contabilidade da "Forbes" se fundamentou em empresas de capital aberto. Na Bovespa, Eike controla quatro delas, sob as asas da holding EBX -como todas suas companhias, o nome se encerra com um xis, emblema destinado a augurar a multiplicação de riqueza. O logotipo é um sol, símbolo inca. A mesma imagem, moldada em ouro, Eike ostentava no pescoço no primeiro dos dois encontros com a Folha, em entrevista de 4 horas e 20 minutos no seu restaurante.

Lá ele contou a história do primeiro milhão de dólares, amealhado com compra e venda de ouro do Pará; do primeiro bilhão, após oito minas de ouro no Brasil e no exterior. Projetou: com suas ações fortalecidas e somando bens ausentes da Bolsa, a fortuna já ultrapassa os US$ 20 bilhões, rumo a coroá-lo o capitalista mais fornido do mundo -a considerar o valor de anteontem do seu quinhão nas companhias de capital aberto (de 54% a 76% de cada uma), Eike detém o equivalente a US$ 24 bilhões em ações na Bovespa.

Na conversa, ele indagou ao repórter: "O que te surpreendeu nesta entrevista? Você me conhecia lendo coisas. O que não bate ou bate?". Insistiu: "Deixa eu entrevistar você: o que as pessoas falam de mim por aí? O que eu sou?".

Nos quatro dias seguintes, adquiriu a concessão da Marina da Glória, cartão-postal da cidade; a candidatura do Rio à Olimpíada de 2016 triunfou, após campanha cujo principal patrocinador individual foi Eike, com R$ 23 milhões; e sua companhia mais promissora descobriu indícios de petróleo na bacia de Santos. Só nessa operação, em sete horas de pregão da Bovespa, o controlador da OGX enriqueceu -em papéis- cerca de US$ 1,5 bilhão, soma superior às vendas da Renner ou da Goodyear no Brasil em 2008.

Eliezer Batista da Silva presidiu a Companhia Vale do Rio Doce no governo Jânio Quadros, de 1961; foi ministro de Minas e Energia em 1962 e 1963, na administração João Goulart; no golpe de 1964, afastaram-no do comando da Vale; retomou a chefia da mineradora a partir de 1979, no mandato do general João Baptista Figueiredo; em 1992, Fernando Collor nomeou-o para a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Aos 85 anos, permanece um azougue intelectual à altura da legenda de estrategista da logística e do desenvolvimento. Eliezer foi um pai ausente. Inquirido sobre a asma de Eike, o segundo dos sete filhos que teve com a alemã Jutta, minimiza: "Não era muito forte". "Eu sofria de asma, de cair da cama e não respirar", contradiz Eike, ignorando o relato paterno. Ele se curou da doença graças a quem mais o influenciou, a mãe. Na Europa, Jutta obrigava-o a nadar mesmo em dias gélidos.

"Quando eles eram menores, eu vivia viajando, não tinha quase contato", lamenta Eliezer (a sílaba tônica é a última). Só para o Japão, contabilizou 178 missões pela Vale. "Eike herdou da mãe toda a disciplina germânica, a persistência", diz Eliezer. "Ela pegava uma criança de três anos, botava para esquiar, jogava colina abaixo. Que mãe brasileira faz uma coisa daquela? Mas se cria gente dura. Modifica o caráter da pessoa." "Minha mulher foi criada na Juventude Nazista", confidencia o viúvo de Jutta, morta em 2000.

No Rio, aonde chegou depois de nascer em Governador Valadares (MG) e morar por pouco tempo em Vitória (ES), Eike estudou em colégio germânico. Na mudança para a Europa aos 12 anos, o alemão predominou como idioma doméstico, inclusive de Eliezer. Quando os pais retornaram para o Brasil, o graduando de engenharia Eike prosseguiu entre a cidade alemã Aachen e a capital belga, Bruxelas.

Com mesada curta -ele se define como classe média alta na juventude-, oferecia seguros residenciais de porta em porta. Desenvolveu um talento de vendedor, o de ouvir: além de alardear as virtudes dos seus produtos, assentia que senhoras segredassem alegrias e tristezas. Bombou.

Em 1979, de volta ao Brasil, embrenhou-se na Amazônia em compra e venda de ouro. Montou mina no meio da selva. Diz que recebeu um tiro pelas costas dado por um garimpeiro de quem cobrava dívida. Socorreram-no no hospital, e a herança foi uma cicatriz pequena. Tornou-se executivo e depois controlador da mineradora canadense TVX Gold.

Foram duas décadas no ouro, concentrado no exterior. Eike afirma que, ao sair do Canadá em 2000, seu primeiro US$ 1 bilhão tilintou. Ele se despediu do ouro e redescobriu o Brasil.

Aqui, disseminou-se no mercado um rumor que a Folha ouviu de concorrentes de Eike abrigados no anonimato: na década de 1980 e na expansão do grupo X, o pai o teria favorecido. Antes, com informações sigilosas sobre o mapa mineral. Hoje, como integrante dos conselhos das empresas. Inexiste comprovação da primeira suspeita. Em relação à influência atual de Eliezer, quanto mais se aproxima do coração do negócio, evidencia-se que Eike dá as cartas. Executivos revelam que, na origem, Eliezer opôs-se à formação da petrolífera OGX e da recém-lançada OSX, que terá estaleiro em Santa Catarina. Eike se julga injustiçado: "Esse negócio que falam que meu pai me mostrou o mapa da mina. Que o meu pai é aquela pessoa brilhante, um oráculo do saber, e eu sou... É difícil". Nada que o impeça de pensar que Eliezer "fez coisas extraordinárias pelo Brasil" e de elegê-lo como ídolo.

O pai, homem de Estado, diz que o filho é vocacionado para a empresa e sempre quis superá-lo. E se sente feliz em saber que Eike conseguiu. Na privatização da Vale, em 1997, Eike ambicionou um naco. O pai demoveu-o, registra o filho, alegando que pegaria mal por ser parente de quem é. Agora, o acionista majoritário da mineradora MMX sonha controlar a Vale, a gigante de mais de R$ 200 bilhões.

Um conselheiro de Eike sustenta que o projeto empresarial é deter o timão da Vale. Participação partilhada não faria sentido, pois não promoveria a sinergia com seus negócios de mineração, logística (portos), energia e petróleo. Medindo as palavras, Eike concede: "Se Steve Jobs falecer, eu vendo as minhas ações da Apple. Há empresas, negócios em que são poucos os criadores da riqueza". Traduzindo: uma fatia da Vale, mesmo que menos de 10%, só faria sentido se ele pudesse fermentar o bolo inteiro.

Enfim, explicita: "Só interessa se for em posição de poder direcionar a criação de riqueza. Você tem que poder decidir como será tocada a companhia". Frustrou-se a primeira ofensiva, que a Folha revelou, pela parte do Bradesco. E aumentou o atrito com o presidente da Vale, Roger Agnelli, indicado pelo banco.

Ao evocar sua incursão pelo ouro no Amapá nos anos 1980, Eike disse que o Bradesco financiou parte da operação.

"O curioso é que o banqueiro que ajudou a gente a abrir o capital... adivinha quem era?". Seria, na verdade, executivo: Agnelli. Rindo animadamente, Eike concluiu, em inglês: "Jesus Christ!". Vale e Agnelli não quiseram comentar. Na EBX, desconfiou-se de que o informante sobre as tratativas com o Bradesco a respeito da Vale tenha sido o banqueiro André Esteves. Eike mostrou ao repórter um torpedo que acabara de receber do dono do BTG Pactual.

O banqueiro escreveu: há "inveja dos outros"; "missões impossíveis são certos companheiros de viagem"; "o convívio com pessoas como você alimentam minha vontade de fazer"; "te admiro muito, cara". Procurado, Esteves não se pronunciou acerca da mensagem. "Brigar para quê?", pondera Eike. "André é um cara com cabeça diferenciada, fora da curva. Talvez tenha que medir a ambição um pouquinho."

Outra hipótese de ingresso na Vale é assumir a participação de fundos de pensão de estatais. Irritado com demissões na mineradora, o presidente Lula dera sinal verde a Eike para abordar o Bradesco. Foi no governo Lula, notadamente de 2006 a 2008, quando se lançou na Bolsa, que Eike prolificou seus reais.

Em 2006, doou como pessoa física R$ 4,38 milhões para candidatos apoiadores do governo, incluindo R$ 1 milhão para o próprio Lula e a mesma quantia para Roseana Sarney. O PSDB levou R$ 1 milhão. Eike jura que sufragou Lula em 2002 e 2006. "Votei numa posição de achar que a gente tinha que exorcizar a esquerda. Estava na hora de chamar a esquerda e ver no que dava", conta.

No choque com o governo Evo Morales, que em 2006 barrou a construção de uma siderúrgica na Bolívia, Eike contratou -ele diz- como consultor o ex-ministro José Dirceu. Em Nova York, no mês passado, descobriu nova semelhança com Lula, além do que considera ser uma identidade marcante sua, o nacionalismo: ambos são de escorpião. Investiu R$ 1 milhão como pessoa física, sem recurso a renúncia fiscal, no filme "Lula, o Filho do Brasil". Hábil como o pai, que conviveu com governantes diversos, elogia Dilma Rousseff, José Serra e Aécio Neves. Aplaude a política do Planalto para o pré-sal. Ressalta que quase todos os seus investimentos se restringem ao país -no entanto vendeu a maior parte da mineradora MMX em 2008 para a Anglo American. Marqueteia: "Com a autopista que Fernando Henrique e Lula deixaram para a gente correr, deixa meu Porsche andar. Faremos bonito".

Estacionado na sala de casa, ele tem uma McLaren esportiva, motor Mercedes que acelera a 334 km/h e com a qual passeia à noite. Mora no Jardim Botânico, na mesma rua da ex-mulher, Luma de Oliveira, e dos filhos adolescentes deles, Thor e Olin. Dedica aos dois atenção e carinho intensos.

Conhecido por décadas como "o filho de Eliezer Batista", virou "o marido da Luma" ao casar com a modelo em 91. Unido na igreja à socialite Patrícia Leal, abandonou-a dias antes da festa de casamento para ficar com Luma, que conhecera havia pouco. O Vaticano anulou o matrimônio. Na Sapucaí, Luma desfilou de coleira com o nome de Eike. Para evitar que ela voltasse a posar nua, o marido dispôs-se a cobrir o cachê da "Playboy".

Diante da negativa, passou a abastecê-la com chocolates, a fim de engordá-la, diminuir a autoestima e mudar a decisão. Novas fotos só foram feitas após a separação. Ao se divorciar, em 2004, transformou-se na persona Eike Batista, o magnata. "Isso foi consciente. Percebi que, com os meus filhos, eu tinha que ter uma identidade. Que negócio é esse? O Thor dizer que o pai é o ex-marido da Luma de Oliveira? Aí tocou a vaidade."

Eike se dá bem com a ex e namora a advogada Flávia Sampaio, 23 anos mais jovem. Gostaria de ser pai novamente. Faz tratamento a laser contra manchas no rosto, submeteu-se a plástica para retirar gordura sob os olhos e se prepara para o quarto implante capilar.

Em 2007, Eliezer Batista disse à Folha que a união de seu filho com Luma fora um erro. Em voto de confiança no amor, o pai de Eike voltou a se casar discretamente semanas atrás, em cartório do Rio. O filho só tomou conhecimento dias depois. Recebeu a novidade com bom humor.

LEMA NOS NEGÓCIOS

Ir aonde ninguém vai

DICA DE GESTÃO

Esse negócio de que o olho do dono engorda o boi. É isso aí

QUALIDADE DE EMPRESÁRIO

Enxergar algo que o cara que está me vendendo não enxergou. Ele não sabe transformar aquilo no que eu vou transformar

PARA PROSPERAR

Não se case cedo; vá para áreas de fronteiras

MAIS RICO DO MUNDO

Vai ser consequência do que eu já montei

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Líderes empresariais se submetem a estatuto socialista do PSB

Camila Campanerut e Nara Alves


BRASÍLIA – De olho nas eleições, executivos que passaram toda a vida à frente de empresas e indústrias encontraram justamente em um partido de cunho socialista as melhores chances de se tornarem candidatos em 2010. Os recém-filiados ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) estão, agora, tão submetidos ao Estatuto quanto seus colegas mais experientes na luta pelo socialismo. A direção da legenda chama a adesão de líderes empresariais de modernização, mas um grupo de filiados decidiu contestar a filiação dos empresários.


O principal nome dessa guinada empresarial do PSB é o do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Sua entrada traduz uma mudança expressiva na postura do empresariado. Há exatos 20 anos, o então presidente da Fiesp, Mário Amato, declarou que 800 mil empresários deixariam o País se Lula ganhasse a eleição para presidente. Agora, como filiado ao PSB, Skaf fará parte da base de apoio do governo do PT.

A aparente contradição não se limita à filiação de Skaf. Outras lideranças sem tradição na causa socialista também se uniram recentemente à legenda. O presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso, o empresário Mauro Mendes, e o ex-ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, renomado empresário de Minas Gerais. Em São Paulo, o PSB também recebeu a adesão do vereador mais votado da cidade, Gabriel Chalita. Para integrar a sigla, todos subscreveram o Estatuto do PSB. Segundo o artigo 2º do Capítulo 1, “é finalidade do PSB lutar pela implantação da democracia e do socialismo no País”.


PSB: "Um passado que nos orgulha, um futuro que nos anima!"

Skaf rebate a suposta incoerência entre o ideal socialista e seu histórico de liderança empresarial afirmando que sempre defendeu a igualdade. “Concordo com o princípio básico de criar oportunidades iguais. Isso eu sempre defendi”, disse à reportagem do Último Segundo. Mas o argumento não é aceito de maneira unânime. Em Campinas, no interior paulista, o coordenador nacional da Secretaria Sindical Brasileira (SSB), Marionaldo Fernandes Maciel, e o secretário estadual do PSB na Secretaria, Jadirson Tadeu Cohen Parantinga, entraram com recurso contrário à filiação de Skaf. O grupo argumenta que a Fiesp patrocinou a eleição de "neoliberais" e que a biografia dele conflita com os ideais do PSB.

“É comum quando entra alguém importante no partido que se levante alguém contrário”, diz o presidente do PSB em São Paulo, Márcio França. “Só no Estado de São Paulo são 110 mil filiados. É direito deles se manifestar.” Ele lembra que “quando Erundina [Luiza Erundina] entrou foi assim, quando Ciro [Ciro Gomes] entrou foi assim”.

Modernização do partido

O líder do PSB na Câmara, o deputado federal Rodrigo Rollemberg (DF), avalia como “significativa” a entrada de expoentes do empresariado brasileiro na sigla. “É natural o partido estar se ampliando através de uma política moderna. O empresariado é um ator muito importante neste comprometimento com o desenvolvimento do País”, avalia.

AE
Skaf e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão
Paulo Skaf e o ministro Edison Lobão

O PSB é fruto da antiga Esquerda Democrática, bloco autônomo da União Democrática Nacional (UDN) que abrigou lideranças comunistas marxistas, como Caio Prado Júnior, antes da legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1985. Paulo Skaf acumula, desde 2004, a presidência da Fiesp, do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). “Foram centenas de unidades do Sesi criadas, escolas em tempo integral... No fundo, isso é criar oportunidades iguais para que depois cada um vá de acordo com sua capacidade”, compara, já em tom de campanha.

No ato de sua filiação, Skaf afirmou que se mira no exemplo do vice-presidente José de Alencar (PRB) e considerou que é dever do empresário brasileiro participar efetivamente da política. Em entrevista ao Último Segundo, o presidente da Fiesp fez, no entanto, uma ressalva sobre a luta pelo socialismo, definido como o lema de sua legenda, de acordo com o Estatuto. “Estamos em 2009 e no Brasil. Precisamos ver o espírito real do momento e do País”, ameniza.

Para Rollemberg, os ideais do PSB de reduzir as desigualdades sociais e regionais, além da distribuição das riquezas, são compatíveis com a entrada de pessoas com experiências em grandes empresas. Segundo o deputado, a legenda está se posicionando como uma alternativa política à polarização PT-PSDB das últimas campanhas.

Fator Ciro Gomes

Uma das estratégias do PSB após o lançamento da candidatura de Ciro Gomes (CE) à Presidência é reforçar o peso da legenda no Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País. O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), considera que o fator de “atração” do PSB sobre os executivos é a viabilidade do nome do deputado federal pelo Ceará como candidato.

“Com Ciro, o partido ganhou novas filiações e conseguiu boas lideranças”, acredita o parlamentar. Ciro Gomes transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo no último dia 2 de outubro. Para Casagrande, a composição atual da sigla é resultado do que a legenda deseja ser. “O Estado precisava alcançar um patamar de maior de liderança. Paulo Skaf é uma dessas e já se colocou à disposição para ser candidato ao governo”, destaca.

O presidenciável Ciro Gomes lembra que o PSB tem muitos empresários. “Está pensando o quê? O atual prefeito de BH [Márcio Lacerda] é um empresário”, exemplifica. O deputado ressalta que os filiados estão obrigados a “dar contas do futuro” e se submeter aos ideais de social-democracia do partido. Casagrande destaca, ainda, que qualquer filiado deve acatar o programa do partido. E avisa: “O partido tem uma direção estável. Tem comando nacional, estadual. Quem não se adequar acaba tendo uma vida muito curta no partido”.