terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Para onde foram os lucros das empresas? (Pedro do Coutto)

A pergunta contida no título tem que ser respondida pela lógica dos fatos, já que inevitavelmente no sistema financeiro não existe débito sem crédito, ou vice-versa. Nos Estados Unidos, a Folha de S. Paulo destacou na edição de 6 de dezembro, no mês passado, 535 mil trabalhadores de todas as qualificações perderam o emprego, o que elevou a taxa de desemprego de 6,2 para 6,7 por cento sobre a mão-de-obra ativa. Esta força de trabalho reúne 150 milhões de americanos, metade da população do país.

No Brasil, de acordo com o IBGE, o índice de desemprego está em 7,8 por cento, devendo atingir 9 por cento nos primeiros meses de 2009, passadas as contratações temporárias do Natal. As empresas lá, como aqui, estão reivindicando recursos públicos. GM, Ford e Crysler aguardam com ansiedade bilhões e mais bilhões de dólares do Tesouro. A Crysler, inclusive, segundo publicou a Folha de S. Paulo, contratou uma empresa especialista em falências. A indústria automobilística não é o único setor afetado. São inúmeras outras empresas na mesma situação.

Em plena era do capitalismo, cabe a pergunta, o que fizeram do capital que acumularam em decorrência dos lucros sucessivos que obtinham? Um mistério: onde estão esses gigantescos recursos? Onde foram parar? Provavelmente no mercado financeiro internacional. Tem que estar em algum lugar. Como se dizia, não podem ter se evaporado. O mais presumível é que estejam nos saldos pouco aparentes dos sócios controladores. Os prejuízos, como sempre, são lançados à conta dos minoritários. Mas a crise, sem sombra de dúvida, é um fato. Fica a pergunta no ar.

Não é a única. Pode-se colocar uma outra, esta relativa ao Brasil. Como, diante dos vários aumentos de preço registrados em novembro, o IBGE localizou uma adição inflacionária de apenas 0,36 por cento no mês? Um enigma.

Sobretudo porque se os alimentos subiram 10,7 por cento, como acentua o próprio IBGE, e os aluguéis regidos pelo IGPM foram reajustados em 11,8 por cento quando completaram um ano de vigência dos contratos, como explicar a mínima fração identificada num elenco de tantas majorações? É preciso considerar que os financiamentos de casa própria também são atualizados pelo IGPM, que, diga-se de passagem, é da Fundação Getúlio Vargas.

As tarifas de energia elétrica subiram, as passagens de ônibus também. Ao longo dos últimos doze meses, o IBGE encontrou um acréscimo de 6,7 por cento sob sua lente de tradução. Mas o que dizer dos aumentos nos remédios e artigos de farmácia? Em novembro foram só 0,36 por cento? Essa não. Difícil acreditar.

Uma pesquise fundamental, para resolver a questão, é se levantar a lista essencial de preços do mercado de novembro de 2007 e confrontá-la concretamente com a de novembro de 2008. Eis aí um desafio fundamental. Dá margem a uma reportagem importantíssima.

O IBGE certamente possui os dados de um mês e outro. Claro. Se não, seria impossível calcular uma inflação de 6,7 por cento de um ano para outro. Para reforçar seus cálculos, e sobretudo a certeza de seus números, deve divulgar os valores de uma ponta a outra do espaço em análise. Com isso, creio, decifraria o mistério, igual ao que citei quanto aos Estados Unidos. Onde foram parar os lucros antes da crise? Onde estão os preços de 2007?
Leia Pedro do Coutto de ontem
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