sexta-feira, 27 de julho de 2012

GM arma carnificina e Brasília cobra explicação (Josias de Souza)


A cidade de São José dos Campos não dá sorte. Em 2009, nas pegadas da crise inicida com a breca do banco Lehman Brothers, a Embraer mandou embora 4 mil trabalhadores. Agora, sob os efeitos da ruína europeia, A General Motors prepara na cidade uma nova carnificina. Flertam com o olho da rua 2 mil pessoas.
Há três anos, Lula reagiu às demissões anunciadas da Embraer com uma simulação de surpresa. Em encontro com sindicalistas, disse: “É um absurdo que uma empresa que recebeu recursos do BNDES ao longo dos últimos anos, ao primeiro sinal de problemas, promova este enorme corte, sem uma única conversa com alguém do governo, sem nos procurar”.
Neste ano da graça de 2012, já sob Dilma Rousseff, o Ministério da Fazenda, onde trabalham pessoas que lêem jornal, tenta evitar o flagelo da lamentação depois do fato. Chamou os executivos da GM para uma conversa. Quer explicações. A reunião foi marcada para terça-feira (31) da semana que vem.
Não faz nem dois meses, o governo serviu à indústria automobilística um novo refresco. A exemplo do que fizera sob Lula, Brasília reduziu o IPI cobrado sobre os automóveis. Ficara entendido que a Receita Federal abriria mão de nacos de sua arrecadação sob certas condições. Entre elas a de que as fábricas preservariam os empregos.
De repente, a GM encerrou a produção de três modelos: Zefira, Meriva e Corsa. Na última terça (24), lacrou a linha de produção de São José dos Campos e dispensou a mão de obra. O cheiro de queimado fez acender a luz vermelha no painel de controle da pasta da Fazenda. E daí? Veja bem…
Também convocada para a reunião de terça, a Anfavea diz que o miolo da pauta prevê um debate sobre o novo regime automotivo, não sobre as 2 mil cabeças ameaçadas de São José. De resto, a entidade que representa os fabricantes de carros focaliza a floresta.
Informa que o setor criou 146,9 mil postos de tabalho em julho. Nos últimos 12 meses a alta na oferta de empregos teria sido de 2,9% –aí incluídas as fábricas de automóveis e também as de máquinas agrícolas. Quer dizer: as 2 mil árvores da GM não representariam um desmatamento significativo na folha do setor.
O diabo é que, se Deus tiver de aparecer para um trabalhador que precisa encher a geladeira, não se atreverá a aparecer em outra forma que não seja a de um contracheque. O lero-lero da Anfavea não garante o prato de comida.