quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Líderes empresariais se submetem a estatuto socialista do PSB

Camila Campanerut e Nara Alves


BRASÍLIA – De olho nas eleições, executivos que passaram toda a vida à frente de empresas e indústrias encontraram justamente em um partido de cunho socialista as melhores chances de se tornarem candidatos em 2010. Os recém-filiados ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) estão, agora, tão submetidos ao Estatuto quanto seus colegas mais experientes na luta pelo socialismo. A direção da legenda chama a adesão de líderes empresariais de modernização, mas um grupo de filiados decidiu contestar a filiação dos empresários.


O principal nome dessa guinada empresarial do PSB é o do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Sua entrada traduz uma mudança expressiva na postura do empresariado. Há exatos 20 anos, o então presidente da Fiesp, Mário Amato, declarou que 800 mil empresários deixariam o País se Lula ganhasse a eleição para presidente. Agora, como filiado ao PSB, Skaf fará parte da base de apoio do governo do PT.

A aparente contradição não se limita à filiação de Skaf. Outras lideranças sem tradição na causa socialista também se uniram recentemente à legenda. O presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso, o empresário Mauro Mendes, e o ex-ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, renomado empresário de Minas Gerais. Em São Paulo, o PSB também recebeu a adesão do vereador mais votado da cidade, Gabriel Chalita. Para integrar a sigla, todos subscreveram o Estatuto do PSB. Segundo o artigo 2º do Capítulo 1, “é finalidade do PSB lutar pela implantação da democracia e do socialismo no País”.


PSB: "Um passado que nos orgulha, um futuro que nos anima!"

Skaf rebate a suposta incoerência entre o ideal socialista e seu histórico de liderança empresarial afirmando que sempre defendeu a igualdade. “Concordo com o princípio básico de criar oportunidades iguais. Isso eu sempre defendi”, disse à reportagem do Último Segundo. Mas o argumento não é aceito de maneira unânime. Em Campinas, no interior paulista, o coordenador nacional da Secretaria Sindical Brasileira (SSB), Marionaldo Fernandes Maciel, e o secretário estadual do PSB na Secretaria, Jadirson Tadeu Cohen Parantinga, entraram com recurso contrário à filiação de Skaf. O grupo argumenta que a Fiesp patrocinou a eleição de "neoliberais" e que a biografia dele conflita com os ideais do PSB.

“É comum quando entra alguém importante no partido que se levante alguém contrário”, diz o presidente do PSB em São Paulo, Márcio França. “Só no Estado de São Paulo são 110 mil filiados. É direito deles se manifestar.” Ele lembra que “quando Erundina [Luiza Erundina] entrou foi assim, quando Ciro [Ciro Gomes] entrou foi assim”.

Modernização do partido

O líder do PSB na Câmara, o deputado federal Rodrigo Rollemberg (DF), avalia como “significativa” a entrada de expoentes do empresariado brasileiro na sigla. “É natural o partido estar se ampliando através de uma política moderna. O empresariado é um ator muito importante neste comprometimento com o desenvolvimento do País”, avalia.

AE
Skaf e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão
Paulo Skaf e o ministro Edison Lobão

O PSB é fruto da antiga Esquerda Democrática, bloco autônomo da União Democrática Nacional (UDN) que abrigou lideranças comunistas marxistas, como Caio Prado Júnior, antes da legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1985. Paulo Skaf acumula, desde 2004, a presidência da Fiesp, do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). “Foram centenas de unidades do Sesi criadas, escolas em tempo integral... No fundo, isso é criar oportunidades iguais para que depois cada um vá de acordo com sua capacidade”, compara, já em tom de campanha.

No ato de sua filiação, Skaf afirmou que se mira no exemplo do vice-presidente José de Alencar (PRB) e considerou que é dever do empresário brasileiro participar efetivamente da política. Em entrevista ao Último Segundo, o presidente da Fiesp fez, no entanto, uma ressalva sobre a luta pelo socialismo, definido como o lema de sua legenda, de acordo com o Estatuto. “Estamos em 2009 e no Brasil. Precisamos ver o espírito real do momento e do País”, ameniza.

Para Rollemberg, os ideais do PSB de reduzir as desigualdades sociais e regionais, além da distribuição das riquezas, são compatíveis com a entrada de pessoas com experiências em grandes empresas. Segundo o deputado, a legenda está se posicionando como uma alternativa política à polarização PT-PSDB das últimas campanhas.

Fator Ciro Gomes

Uma das estratégias do PSB após o lançamento da candidatura de Ciro Gomes (CE) à Presidência é reforçar o peso da legenda no Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do País. O líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), considera que o fator de “atração” do PSB sobre os executivos é a viabilidade do nome do deputado federal pelo Ceará como candidato.

“Com Ciro, o partido ganhou novas filiações e conseguiu boas lideranças”, acredita o parlamentar. Ciro Gomes transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo no último dia 2 de outubro. Para Casagrande, a composição atual da sigla é resultado do que a legenda deseja ser. “O Estado precisava alcançar um patamar de maior de liderança. Paulo Skaf é uma dessas e já se colocou à disposição para ser candidato ao governo”, destaca.

O presidenciável Ciro Gomes lembra que o PSB tem muitos empresários. “Está pensando o quê? O atual prefeito de BH [Márcio Lacerda] é um empresário”, exemplifica. O deputado ressalta que os filiados estão obrigados a “dar contas do futuro” e se submeter aos ideais de social-democracia do partido. Casagrande destaca, ainda, que qualquer filiado deve acatar o programa do partido. E avisa: “O partido tem uma direção estável. Tem comando nacional, estadual. Quem não se adequar acaba tendo uma vida muito curta no partido”.

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